2004
Nove balões multicoloridos do Comendador Victorio Truffi, um dos precursores do balonismo no Brasil, subiram aos céus de Santa Cruz do Rio Pardo, num evento inédito para a época.
E talvez inédito até hoje, pois foi a primeira vez que balões levaram asas-delta e pára-quedistas, que pularam a centenas de metros para pousar, horas depois, no campo do “Leônidas Camarinha”.
Os balões — que não eram dirigíveis — pousaram na zona rural do município, sendo recolhidos por veículos da prefeitura.
O fato ganhou destaque na imprensa nacional. O “Fantástico”, da Rede Globo, destacou seu melhor repórter — Hermano Henning — para cobrir a façanha. Dezenas de jornalistas da grande imprensa estiveram em Santa Cruz naquele dia. Um leitor do DEBATE ainda guarda, até hoje, um exemplar da revista “Manchete” — do grupo Bloch, que fechou as portas há vários anos —, um dos símbolos da imprensa ilustrada naquela época.
A Manchete destacou nada menos que 7 páginas da edição de 23 de maio de 1981 à grande festa promovida em Santa Cruz do Rio Pardo. A festividade, aliás, teve outras atrações — como manobras radicais de veículos e shows musicais —, mas nenhuma delas teve o glamour dos balões do comendador Truffi.
A curiosidade foi a data de aniversário da cidade, 3 de maio. É que no ano anterior, o então prefeito Aniceto Gonçalves sancionou lei aprovada pela Câmara, mudando a data de comemoração do aniversário de Santa Cruz, de 20 de janeiro para 3 de maio. A justificativa tinha bons argumentos: em janeiro, as escolas estão em recesso, muitas famílias estão viajando e há dificuldades para a promoção de um evento grandioso. A nova data persistiria somente até o ano seguinte, pois em 1983, através de projeto do então vereador Israel Benedito de Oliveira, 20 de janeiro voltou a figurar como data oficial da emancipação.
Houve pressões até da Igreja para manter a tradição.No estádio “Leônidas Camarinha”, balões multicoloridos perfilam antes do vôo
“Façanha” — A revista Manchete que noticiou o evento em Santa Cruz do Rio Pardo não poupou elogios ao show dos balões. A edição de 23 de maio de 1981 descreve, sob o título “um incrível festival nas alturas”, o que chamou de “inédito festival de balões”, pelo fato de três balões carregarem asas-deltas. “Cada um desses, a 5 mil metros de altura, largou sua carga — que chegou ilesa ao solo, como se fosse uma operação banal”, diz trecho da reportagem.
Em estilo romanceado, o texto chama o Comendador Truffi de “rei do balão no Brasil”. “Os balões multicores subiram na hora certa e, lá de cima, em perfeita coordenação, começaram a largar sua estranha carga. Vieram deslizando três asas-deltas e, de quebra, outros tantos pára-quedistas. Os balões continuaram à deriva, majestosos, descendo e sendo resgatados nos pontos de pouso que haviam sido anteriormente determinados.
As asas planaram em círculos e pousaram próximas à platéia, sob salvas. Os pára-quedistas saltaram dos balões e, com precisão matemática, desceramPopulares ajudam na montagem de balões nos círculos demarcados”. E conclui: “Não houve ganhadores, nem acidentes ou perdedores, apenas um show inédito e deslumbrante para quem ficou lá embaixo, de olhos admirados para o alto”.
A Manchete conta, ainda, que uma das asas-delta pousou no estádio “Leônidas Camarinha”, mas uma outra só parou uma propriedade rural, longe da cidade, “o que fez o dono da casa homenageá-lo com um grande almoço”. Quanto aos balões, flutuaram sobre casas e plantações, “fazendo a criançada vibrar”. Num deles estava o diretor do DEBATE, Sérgio Fleury Moraes, que lembra do passeio como uma “viagem inesquecível”.
“Assim Santa Cruz do Rio Pardo comemorou, entusiasmada, seus 111 anos no céu”, conclui a reportagem da Manchete, que não trouxe o nome do autor. As fotos para a revista foram feitas pelo fotógrafo Vic Parisi.
Bons Ventos!!