COMEMORAÇÃO
Dia estadual de balonismo Bartholomeu de Gusmão em São Paulo
Por Lauret Godoy
Em março de 1999, o governador Mário Covas instituiu o Dia Estadual de Balonismo Bartholomeu de Gusmão, no Estado de São Paulo, a ser comemorado anualmente no dia 8 de agosto. A iniciativa merece destaque e deveria ser seguida nacionalmente. E você com certeza concordará com isso ao saber quem foi Bartholomeu de Gusmão. Mas vamos por partes…
A cidade de Santos, situada no litoral sul de São Paulo, foi fundada por Brás Cubas e transformada em Vila no dia 1.º de novembro de 1546. Durante muito tempo, os santistas defenderam a terra com valentia, resistindo aos ataques de índios, estrangeiros e piratas. Por estar localizada a beira-mar, em lugar privilegiado, as investidas eram permanentes . Para a defesa, eram mantidos esquemas de segurança, com muitas armas e militares. A cidade era considerada “praça de guerra” ou “praça militar fortificada”.
Por volta de 1680, era cirurgião militar da Vila, o português Francisco Lourenço, casado com a brasileira Maria Álvares. Eles moravam na rua Santo Antônio, tiveram doze filhos e vários deles tornaram-se famosos. O quarto filho do casal, Bartholomeu Lourenço, foi batizado na igreja paroquial de Santos, em 19 de dezembro de 1685.
O carneiro hidráulico
Fez os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas e, desde criança, chamava a atenção dos professores, porque era muito inteligente, possuía excelente memória e aprendia com facilidade história, matemática e filosofia. O jesuíta Alexandre de Gusmão percebeu a inteligência de Bartholomeu e levou-o para estudar humanidades no Seminário Jesuítico Nossa Senhora de Belém, perto de Cachoeira do Paraguaçu, no Estado da Bahia. Para lá, foi o menino santista, em busca de sabedoria e conhecimento, porque o Seminário de Belém era considerado o melhor colégio da época.
Aos 13 anos de idade, Bartholomeu Lourenço inventou um engenho que denominou carneiro hidráulico e com ele fez jorrar água fresca dentro do seminário, para alegria e espanto de todos. Uniu telhas umas contra as outras, juntou-as com argamassa e fez um encanamento original. Foi represando água do rio por meio de algumas estações e conseguiu, por bombeamento, fazê-la chegar ao seminário que ficava cerca de 100 metros acima do rio.
Ele requereu e foi-lhe concedida a patente desse invento. Durante muitos anos o carneiro hidráulico pôde ser visto em Belém da Cachoeira e, ainda hoje, muitas fazendas brasileiras ainda bombeiam água usando esse mecanismo, que foi inventado pelo adolescente santista há mais de 300 anos.
O aeróstato a ar quente, ou mais simplesmente, o balão
Bartholomeu Lourenço esteve em Lisboa na adolescência e foi muito festejado pelos dotes intelectuais. Voltou à capital portuguesa em 1709 e, algum tempo após a chegada, mandou petição a dom João 5º., rei de Portugal, dizendo ter descoberto um instrumento que podia andar “pelo ar, terra e mar, com brevidade”.
Em 8 de agosto de 1709, na Sala das Embaixadas, diante do rei, da rainha e demais membros da Corte, um pequeno globo de papel impulsionado a calor, subiu suavemente a uns quatro metros de altura. Como estivesse quase chegando ao teto, foi destruído por criados da Casa real, que ficaram receosos de um incêndio.
Em 3 de outubro de 1709, ao ar livre, o balão a ar quente inventado por Bartholomeu Lourenço saiu do Pátio da Casa da Índia, subiu aos ares, ganhou altura e pousou no Terreiro do Paço Real. Graças ao êxito da experiência, ficou provado publicamente que o inventor santista descobrira o aeróstato a ar quente, promovendo em Lisboa, oficialmente, a primeira ascensão aerostática do mundo. Estava inventado o mais leve que o ar.
Bartholomeu de Gusmão
A partir de 1712, ele adotou o sobrenome do jesuíta Alexandre de Gusmão, seu protetor, e passou a ser chamado Bartholomeu Lourenço de Gusmão ou Bartholomeu de Gusmão. Por sua invenção, recebeu o apelido de “padre voador”.
Ao inventar o balão a ar quente, Gusmão tornou-se mensageiro da fantástica notícia: o homem, um dia, conseguiria voar. Essa invenção transformou o sábio santista no primeiro cientista das Américas. Foi ele o precursor da navegação aérea por meio do aeróstato a ar quente.
Bartholomeu Lourenço de Gusmão, conhecedor de mitologia, filósofo, bacharel e doutor em Direito Canônico, falava latim, francês, italiano e tinha grande conhecimento do grego e hebraico. O brasileiro que foi o primeiro homem a conseguir elevar um objeto do solo, impulsionando-o com calor, faleceu em 18 de novembro de 1724, no Hospital da Misericórdia de Toledo, Espanha, sendo sepultado na Igreja de São Romão.
Seus restos mortais estão na cripta da Catedral da Sé de São Paulo. Nesse local nobre, estão sepultados outros ilustres nomes da história paulista. Esse brasileiro que viveu apenas 39 anos, presenteou a humanidade com uma invenção prodigiosa e, graças a ela, deu o primeiro passo na longa estrada que levou o homem à Lua.
Bons Ventos!!!!